O julgamento: Pedro, Paulo e Nós
- Isis Brum
- 3 de out. de 2023
- 2 min de leitura
"Quando Pedro fala de Paulo, sabemos mais de Pedro do que de Paulo." Esta afirmação poderosa, feita pelo renomado psicólogo suíço Carl Gustav Jung, é um convite para explorar a dinâmica complexa do julgamento, tanto em relação aos outros quanto a nós mesmos.
Frequentemente, projetamos nossos próprios sentimentos, medos e inseguranças nas ações dos outros e escolhas que fazem. Isso pode resultar em uma visão distorcida da realidade e, muitas vezes, nos leva a tirar conclusões precipitadas.
Dentro de nós, existe uma dimensão emocional que armazena dores, traumas e frustrações. Chamada de área de sombra, está localizada no inconsciente, portanto, numa região a que a consciência não tem acesso. Mas essas dores existem e atuam em nós.
Por isso, quando olhamos para alguém e manifestamos um julgamento, dizemos que "só vemos fora o que temos dentro". Se a avaliação é positiva, tudo bem ouvir isso. A grande dificuldade vem em aceitar quando o juízo feito, além de negativo, demonstra quem realmente somos.
O ato de julgar os outros pode ser uma maneira de desviar o foco de nossas próprias falhas, evitando o confronto com sentimentos internos mais desafiadores de lidar. Quanto mais uma pessoa se mantém afeita a crítica externa, mais resistente é em olhar para si mesma e se desenvolver.
Por outro lado, o ser humano não vive isolado em sua própria realidade. No âmbito social, julgar os outros desencadeia uma série de emoções negativas, como ressentimento, raiva e inveja. Essas emoções podem corroer os relacionamentos e prejudicar o bem-estar emocional pessoal e coletivo.
Além disso, o julgamento constante dos outros mina a empatia e a capacidade de compreensão, dessa forma, reduz as possibilidades de conexão humana. Afinal, quem julga, se vê como um ente superior aos demais, aos diferentes de si mesmo. Ou ainda olha a si mesmo como o bonzinho, o inocente, enquanto os outros são maus e culpados, perpetuando um estágio de consciência autocentrada e infantil.
Julgar ainda é uma parte intrínseca da experiência humana desde a primeira infância, quando os pais - especialmente a mãe - definem o certo e o errado para nós, segundo valores e referenciais familiares. Porém, conforme se trilha a caminhada em direção à vida adulta, é importante reconhecer as implicações emocionais negativas de levar para fora as próprias crenças, mesmo porque o julgamento dos outros atua como um espelho que reflete nossos preconceitos, medos, inseguranças e expectativas não atendidas.
Ao se sentir incomodado com algo na outra pessoa, ao invés de julgar, rastreie dentro de si mesmo qual emoção ou sentimento ressoa com aquilo que chama a atenção fora. Pode ser que, inicialmente, seja difícil perceber a sintonia, mas, com a prática, você conseguirá localizar as próprias dores e, ao invés de se afastar das pessoas, poderá ser grato por iluminarem a sua área de sombra e permitirem o seu crescimento e a sua evolução.

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